segunda-feira, 29 de dezembro de 2008

compressão.

É tão bonito se você colorir assim. Mas é só uma deixa, um espaço vazio no tempo que te deram pra entrar. Agora você vive se comprimindo pra caber no abraço seco. Ele brilha longe e te comprimi em mil pedacinhos quebrados... pedindo pra estar perto. O mundo gira, gira e você está lá parada no meio do nada, atrás do lado seco das lágrimas, pois nem elas escorrem... É preciso viver em segredo a dor. Ou se não se consome tudo. Se perde tudo.
Até quando se perguntar se é melhor viver assim comprimido ou seguir o vento frio. É melhor quebrar logo, senão a gente vira pedacinhos tão pequenininhos... que perde-se muito ao juntar denovo...
me faz lembrar a todo tempo como é colorido-dolorido.

sábado, 27 de dezembro de 2008

voltando, voltando...

O mais dolorido não é a distância. O que corta fundo mesmo é que me sinto moradora dos dois lugares. Quando estou lá, parece que vivo lá. Quando estou aqui, parece que vivo aqui. E não há como fazer uma separação entre os corações de lá e daqui. Vejo todos lá e parece que nada mudou, parece que não há distância e tempo que interfira em nada. Mas quando volto é sempre o mesmo baque. É perceber que há uma puta distância entre nós e que nossa convivência depende hoje de poucos dias.

Hoje eu sou só uma pintura rebuscada de alguém...

quarta-feira, 24 de dezembro de 2008

último dia...

Como é dificil se despedir e pensar que vai demorar meses para eu conseguir voltar pra cá.
Junto a mim voltam um abraço carinhoso, as risadas e o sotaque - que eu nunca gostei e dessa vez pareceu tão doce.
Algumas coisas me incomodam muito ainda nessa terrinha alemã. Essa indiferença toda, essa tradição que parece prender às pessoas à terra e a tudo mais. Não sei como explicar, nunca soube, mas eu vejo uma coisa tensa na vida que os blumenauenses e região levam... diferente de como sinto Sorocaba como um certo paraíso pessoal... é tudo tão mais simples lá.
Preciso cada vez mais das coisas simples, cada vez mais me sinto como um corpo flutuante, transparente... O mundo todo respira dentro de mim. E eu transpiro tudo... Só uma bolha no meio de todo o ar...

quinta-feira, 18 de dezembro de 2008

Terrinha alemã, cheguei!

Na estrada já dava pra perceber parte do estrago...
E eu me dividindo entre a vontade imensa de ver todas as partes do caminho e o sono que vinha arrebatar-me e roubava os olhos da estrada...
Chegar aqui denovo, me reacostumar com as cores da cidade, um tanto apagadas hoje, mas que me remetem a tanta coisa...
Um berro tão bom de ouvir no interfone, abraços e as companhias... ah! Vamos lá semaninha. :}

sexta-feira, 12 de dezembro de 2008

sobre o mesmo dia...

Hoje eu repartiria a dor em mil pedacinhos, porque eu realmente não queria senti-la sozinha.

sempre algo a perseguir...

O dia 12 de dezembro cada vez me dá mais receio... Desde pequena sempre acompanhado de algum fato marcante. E desde o ano passado, marcado pelas despedidas... de uma forma ou outra é sempre alguém se despedindo... a distância que aumenta e a saudade que corrói.
Tudo escolhe sempre esse dia, ou ele que puxa tudo consigo...

sexta-feira, 5 de dezembro de 2008

Sobre outros alívios..

E é bom ouvir Regina Spektor novamente e a tristeza não acompanhá-las mais.

conversas emessênicas de madrugada...

... e coisas que vão surgindo:

A falta de tempo faz a gente manter as coisas superficiais. Não que a gente queira, mas a gente tem que ficar se encaixando nele o tempo todo e algumas coisas ficam pra fora. Dá um certo alívio e felicidade quando as coisas que valem a pena e gostamos cabem nesse espaço e tempo todo.

O lado bom de tudo que aconteceu nas terrinhas do sul, foi retomar o contato mais próximo e ver tudo interagindo denovo... Como é bom, como é bom de alguma forma sentir tudo perto. Falta só sentir o cheiro da terra...

segunda-feira, 1 de dezembro de 2008

querendo um pouco mais que três dias.

coração anda inflando novamente.
preenchido de preciosidades antigas.
mas anda meio dividido, não sabe se fica aqui, se permanece lá.

a corda puxa de lá e puxa de cá, e parece que de lá cada vez é mais forte...
e pede certa paz de sentar na beira do mar, de ficar na grama olhando pra nada, com um efeito de vinho, e os reencontros todos. me veêm todos à cabeça e um abraço tão apertado.

até me sinto cheia, distante.
e felizmente menos triste, vejo tudo movimentando denovo...

se me pedirem para ficar aqui, com mais alguns dias eu seco.
preciso ventar por aí, mas volto, daqui eu não me perco, não. meu paraíso... mas até do paraíso a gente pede férias.

domingo, 30 de novembro de 2008

manso.

Enfim, gosto de você por perto. Mas eu fico tentando meio esconder, porque pode ser que você não entenda... Sempre essa coisa meio instável dominando meu corpo e a minha mente.
Eu odeio como essa coisa de "faltará sempre a sinceridade" permeia o que é desfeito. Parece sempre se repetir, embora alguns lapsos salvem a coisa toda, mas são raros... Enquanto isso fico a todo tempo procurando o que eu penso e sinto linearmente, afinal para mim aquelas partezinhas marcantes ficam e significam, sempre quando reencontro.

sexta-feira, 28 de novembro de 2008

O que não dá é pra ficar quieta.
O que não dá é fechar os olhos e não ver.
Afinal a gente tem que interferir nas coisas, não dá pra ficar eu parada aqui calada e você aí.

quarta-feira, 26 de novembro de 2008

sobre as 'águas passadas'...

Para o Daniel, o motivo do post era esse: http://allesblau.net/

Há dois meses meu coração andava apertado, querendo muito estar pelas terrinhas do sul denovo, e passar um tempo nem que fosse jogada no sofá da irmã de tarde morrendo de calor, e depois cozinhando alguma guloseima nossa no sofá. Com aquela coisa nossa, de tanto tempo: apoiadas nos nossos próprios ombros. Querendo conhecer o Thomas, que nasceu e eu ainda nem vi. Querendo estar do lado do Bruninho, acompanhando as linhas infinitas que surgem daquele menino e vão parar sei lá onde... Bruninho é imaginação pura... meu ponto simples e que me faz respirar tão puro no meio de tanta coisa dura e tanto concreto. E na semana passada, que me veio o Marcos na mente e me deu um aperto e uma vontade de estar perto, meu quase vizinho, companheiro, que me dizia as coisas que mais tarde estariam tão presentes na minha mente... Sentada em um bar qualquer com o Ti, tomando a cerveja que agora eu quero. Rindo com a Raquélica como sempre...
E tudo isso foi literalmente por água abaixo...
Hoje eu só consigo pensar em quando é que isso tudo vai passar, e eu nem sei bem como, afinal vão ter que reconstruir a cidade inteira, ou acabar com os morros todos, desviar os ribeirões, tirar casas do nada e colocar onde aliás?
Meu coração tá apertado, metade aqui, metade lá, uma coisa meio engasgada e a sensação estranha de pensar que foi lá e que isso tudo aconteceu. E que coisa surreal.
Foi a coisa mais direta que esse blog já teve, mas foi um desengasgo, ou sei lá, um maior ainda, porque remexer nisso dói, como dói pensar em tudo que envolve isso.

domingo, 23 de novembro de 2008

pára de chover!

e dá pra ficar tranquila, mesmo há no mínimo 8 horas de distância de lá?
fico há tantos quilômetros pedindo que pare de chover um pouco.
Enquanto isso, meu corpo todo se mantém tenso e minha mente longe.

terça-feira, 18 de novembro de 2008

Dia engasgado

Pise com os pés o coração para fazer dessa dor seca, sangrar alguma coisa. Joguei tudo para o ar e transpareci, virei pedra. Venta denovo e retorna as coisas leves. Lembro bem agora, como chuva diz quando vem: "dá espaço aos vazios também..."
Embora eles doam e eu peça só o refugo de um abraço. Olho para os lados e vejo tudo cheio. Ainda não chegou aqui... Me deixa me esconder um pouco no meu casulo de pedra. Mas dessa vez te dou a senha... Me importa as coisas compartilhadas e dessa vez peço que o engasgo vire vômito.
É tudo tão fragmentado. Pode existir algo inteiro? Há algo estranho no ninho... Suguei meu corpo todo pra dentro, tá díficil respirar.

sábado, 15 de novembro de 2008

é meio triste esse teu jeito de retornar as tempestades.
como se essa indiferença toda não contasse...
se sou parede, elas tem certas rachaduras, e você se esquiva pelos espaços...

Você não sabe como doeu fechar aquela porta.

domingo, 9 de novembro de 2008

As pessoas pensando sempre que os problemas estão nos lugares e não nelas mesmas.
Passar a vida inteira se mudando achando que isso é que vai resolver alguma coisa.

sábado, 8 de novembro de 2008

Acho que no dia que morrer, vou me misturar ao ar.
Ou vou cair na água mesmo com o vento todo batendo naquela cena de final, com alguém me segurando em um pote bem perto da ponta e me jogando, e eu virando todo vento e toda água, porque de alguma forma, uma hora, vamos virar uma coisa só.
Ou quando o sangue jorrar até o limite dentro do corpo, quando estiver assim meio explodindo pra fora, quando o limite transpassar o meu corpo todo, e eu já não caber aqui. Os olhos arregalados, e um suspiro.
Queria conseguir definir o significado de 'tocar', mas é uma coisa tão imensa. Que não sei a nossa visão não diz mesmo nada, afinal tudo tá além do limite visível das coisas. Como elas se aproximam muito antes de se tocarem. E quando a gente meio se bate, no meio dessa dureza toda, e o barulho dos corpos se encontrando é bem mais vivo que muita coisa. A gente vai se encontrando, e se juntando, e cada vez mais perto que no final viramos um monte de coisas flutuantes.
Flutuar, ser um pouco do ar, não sei. Essa transparência cheia.

segunda-feira, 3 de novembro de 2008

meia luz, meio vento...

às vezes a gente não cabe, às vezes a gente não cabe na gente...
meio um coração batendo calmo e forte.

sexta-feira, 31 de outubro de 2008

corpo espaçado, mente flutuante...

Eu sento e me desfaço em pedaços, cada parte do corpo é um lado...

quinta-feira, 30 de outubro de 2008

como o caio diz tudo às vezes...

"Quando eu escrevo eu consigo ordenar tudo aquilo que eu penso. Agora, quando eu falo ou quando eu sou, simplesmente não consigo ordenar nada. Eu sou da maneira mais caótica possível."

pérolas do cotidiano


Pérolas que alimentam os meus dias e tornam eles cada vez mais bizarros:

Manhã:
Enquanto inicio meu dia organizando os livros e o seu Benedito inicia o seu como sempre em leituras em voz alta na livraria. Passo ao lado e não posso me conter à pergunta ao ouvir um trecho um tanto estranho de um livro:
- Que é isso?
- Você sabe falar caipira, Tatiana?
- Ih... Acho que nem sei.
- Eu sei. Quer ver?
- "Eu vô fazê farinha".

Tarde:
Senhora enquanto aguarda a impressão do boleto:
- Tá de quantos meses?
- (risos) eu não estou grávida...
E segue-se milhares de desculpas e uma senhora quase morta de vergonha.

Fim de tarde:
Caminho rapidamente até o ponto de ônibus, quando observo um menino de 6/7 anos dançando enquanto caminha com a mãe. De repente ele me olha e solta:
- Você sabe dançar psy?
- Não sei. Você vai me ensinar?
E começa a dançar na rua.

quarta-feira, 29 de outubro de 2008

sensações-impressões estranhas.

não queria me tornar aos olhos de alguém só a coisa dura.
mas a outra parte, a parte inteira depende de sensações, fortes, de turbilhões, puros...

tô quase falando feliz 21 anos antecipado, é tanta coisa para um ano, os dias foram meio multiplicados.

depois de passar tudo, será que vem o que agora?

acho que é a hora de fugir um pouco do lado de cá.

terça-feira, 28 de outubro de 2008

ímpar;

praça, flor meio exótica e de cor forte, aquele som longe de praça de correria e risos, aquele ar cheio, sentar na grama e desfiar as linhas trançadas na nossa mente nos últimos dias, coisas que fazem todo o sentido no domingo.

essa paz que o paraíso sorocabano me traz.

domingo, 26 de outubro de 2008

duas doses de febre;

Acordei com tanta febre hoje, que minha cabeça fervilha e parece explodir a tudo. Parece que nas palavras novamente não cabe o mundo inteiro que eu teria pra falar... Mas custa só dizer que eu não quero isso. Que eu quero ver tudo explodindo em mim e tudo parecendo leve. Que eu vivo disso ao contrário de abraçar vazios, cheios inteiros em você e vazios em mim.
Fiquei afim de vomitar o mundo mesmo e catar os cacos que formam o que é doce. Doce é o tanto quebrado e um tanto também inteiro de ar, e não de sufoco. Sufoco é pedir pra engolir essa merda toda que te faz rir e me fazem vomitar. Coisa bonita e colorida que pra mim é mais que transparente, e nem transparente poderia ser, porque transparência diz muito pra mim. É sem cor. É uma cor disfarçada da qual se alimentam aqueles que acham que sorriem inteiro. Ou sorriem inteiro mesmo, só quero muito longe de mim.
Me dá denovo uma chance de correr por aí. Preciso descobrir o que há fora da janela desse trem que por uns minutos-dias resolveu parar denovo.
Parece que as palavras regrediram, mas insisto em andar. Mesmo que me perca um pouco. Só não dá pra ficar nesse lugar branco por tanto tempo, daqui a pouco ele me engole.

sexta-feira, 24 de outubro de 2008

sentido;

Eu tentei explicar como preciso das coisas explodindo muito às vezes e que calmaria só não cabe mais em mim há algum tempo. E que aquele "liberta" libertou um mundo todo dentro de mim, que pede pra gritar às vezes, e eu deixo. Não cabe ainda te explicar todas essas coisas que passaram, mas eu queria tentar, pra não ser nenhuma vez só um machucado. Temo que as minhas vontades tenham tomado conta um pouco da minha consciência.
E eu escolhi viver, antes de querer renunciar a qualquer coisa. Uma parte do que me incomodava fugiu denovo. E as coisas fluem leves. Posso até descer denovo as ladeiras e acompanhar as luzes dançarem na minha visão falha.

Elemento estranho esse que de certo é água e tem às vezes tudo próximo diluído, como corpo e o resto como coisa só e se move pelo vento.

Eu caminho nessa linha torta de olhos fechados e vivos.

sábado, 4 de outubro de 2008

mesmo que não seja mais dor.

"...sabe que o meu gostar por você chegou a ser amor pois se eu me comovia vendo você pois se eu acordava no meio da noite só pra ver você dormindo meu Deus como você me doía de vez em quando eu vou ficar esperando você numa tarde cinzenta de inverno bem no meio duma praça então os meus braços não vão ser suficientes pra abraçar você e a minha voz vai querer dizer tanta mas tanta coisa que eu vou ficar calada um tempo enorme só olhando você sem dizer nada só olhando e pensando meu Deus como você me dói de vez em quando".

Ah, Caio F., você diz tudo às vezes.

domingo, 28 de setembro de 2008

incógnitas rodeiam...

Ainda tento entender o que significa.

Mas a frase "João nunca comeu na vida, mas a vida comeu João" não sai da minha mente há dias...

Tenho uma vontade imensa de escrevê-la em um muro extenso, com garranchos grandes e tinta preta, quase um giz forte com o qual você pode riscar rapidamente.

Eu queria muito dizer isso para o mundo todo, mas embora queira, enquanto não entendo a coisa toda, fica para mim. Quero muito te dizer como ela é imensa. Mas parece que você já entenderia só de vê-la amarelando todo aquele muro.

faltará sempre a sinceridade?

Hoje eu vi, e como doeu.

Vocês desistiram da outra parte do mundo e nela quase cabe o mundo todo.

Eu preciso ver um pouco das flores lá fora.

quarta-feira, 17 de setembro de 2008

Sensação estranha.

Que vontade de reviver sentir algo como e ao mesmo tempo não querer reviver.
Olho pra você e tento arrancar alguma coisa, que nem mais eu sei. Afinal, o que teria mais ali?
Esqueci que até a distância passou.
Esqueci que tudo passou.

Esqueci que afinal aqui estou. E que vou ter que segurar as pontas nos pés, agora.

Ode ao novo tempo, e estou com medo da minha mente.

domingo, 14 de setembro de 2008

sobre dias que revigoram minha alma;

Um corpo tão quebrado e tão vivo.
Correria ainda milhares de vez embaixo de chuva.

doses de consciência;

Rostos bonitos quebram. Te diria isso afinal, se conseguisse dizer qualquer coisa.

domingo, 7 de setembro de 2008

Gritos mudos

Eu sempre quis entender se algumas coisas eram passageiras ou se eram minhas constantes mesmo. Se fobias tem cura. Se há algo tocável mesmo nestes instantes de vazio puro. Se sou eu que me afasto dessas energias ou elas que são nulas. Eu tenho quase certeza que sou eu que me prendo em um branco, e tenho medo às vezes de ser caminho sem volta.
Queria muito saber a cura. Se existe cura.
Paredes geladas, coisas pesadas e mudas. Uma multidão e ninguém. Uma parede branca e sangue seco.

sexta-feira, 5 de setembro de 2008

milhares de coisas escondidas nas coisas;

Todos os lugares têm um grito escondido.

leve.

É como se o mundo fosse sensível ao toque. É como se a gente tocasse sem chegar perto. É como se as coisas vibrassem em uma certa frequência única e oscilassem no ar. É como se fosse uma música de cores. É como se tivesse um som pra cada dia e como se o dia vibrasse na mesma sintonia. É como se as sintonias se cruzassem no ar.
é como se fosse um pouco mais de muita coisa.

sexta-feira, 29 de agosto de 2008

explosões;

Tive uma daquelas sensações imensas que tem permeado minha vida nas últimas semanas. São como as explosões que Caio F. me traz diante dos olhos. Ler os morangos mofados é encontrar as duas linhas que se cruzam o tempo todo em nossas vidas, a felicidade e o abismo. Minha quinta-feira foi a síntese perfeita dessa mistura de calmaria e explosão que sempre invade meu corpo e minha mente. A sensação única de caminhar entre as árvores, pisando em folhas secas, diante de uma explosão de fogos de artíficio no céu. Algo muito próximo, quase rente ao corpo que de um segundo à outro parecia que os raios saíam mais de dentro de mim do que daquele abismo azul.

quarta-feira, 27 de agosto de 2008

jardins

Sentou na cadeira e começou a cortar. Os cabelos, sem corte há tempos - não lhe restavam horas, não lhe restava dinheiro -, passados por entre os dedos, nas manhãs-tardes de ressaca no sofá. Cortou os pés que caminhavam pela grama, ao lavar o carro imundo de lama daquele poço de onde vinha todos os dias, onde sugava e jogava sua vida de uma corda repleta de nós. Enquanto isso ela se mantinha em frente ao fogão, a vida toda escrita nas mãos em cortes e cicatrizes sem cura. Dizia-se pura, até quando - momento ao qual lograram à ele certa loucura - ele se viu perdido em uma vontade incurável de mergulha-la naquele poço, com a corda enroscada ao pescoço. Os nós perfurando a pele dela, enquanto ele ejaculava e se deliciava de um prazer inocente. Sua única felicidade acabou quando seus pulsos seguravam o ar, e ela seguia caindo por aquele imenso buraco. Sobraram a ele, os olhos imensos e brancos, dispersos por aquele buraco tão fundo, mas tão fundo, que só não era maior do que o que afirmava carregar no corpo.
Embebedou-se daquela porra toda, enquanto ela se arrastava pelos cantos do quarto. Quando acendeu a luz, não havia ninguém. Entre aquelas paredes só restava uma sombra consumida pela culpa. Sobravam-lhe cinco anos da conta que tinha feito aos 35. Foi só o tempo de imendar as feridas, e do fio soltar-se logo que admitiu - não tinha culpa - era o carro mal lavado, o serviço mal pago. Arrastou o fio pelas veias, para encontrar-se no gelo que lhe parecia familiar.

terça-feira, 26 de agosto de 2008

clamo.

Tudo bem. Não seria alguém que você lembraria se passasse. Eu ando meio no escuro, e me alimento de luz - de longe. E hoje eu clamo por ela. E pelo escuro e por qualquer coisa dessas, mas que eu possa sentir com calma. Não quero ter que engolir tudo tão depressa, e digerir também o tempo - se me sobra nas horas. Eu sinto um certo nojo e um certo repúdio quando começo todos os dias. Eu sinto que queria estar rindo da sua cara e chorando da minha. Um vômito engasgado e nele toda a minha vida.

Eu sinto o gosto da mordaça... e que em breve, ela cai.

quinta-feira, 21 de agosto de 2008

descoberta do mundo.

Geralmente ele brilha no escuro, sabe? Mas às vezes uma luz se apaga e ele se perde na escuridão. Eu já decorei esse rosto. Só me resta saber se é descoberta ou se é luto. Se a escuridão alimenta ou destrói. Parece uma armadura. Um olhar doce, que traz e esconde.

segunda-feira, 18 de agosto de 2008

sintonia

Chego da cidade arranha céu com um turbilhão passando pela mente. Tudo o que precisava era sentar e sintetizar aqui tudo o que se passou nesses três dias. Então, chego à praça e uma cena me paralisa e me faz voltar no tempo. Há um ano estávamos aqui. E tudo me fugiu à mente. De vida bolha à quase estranhos.

paz.

Duas coisas essenciais aos meus finais de semana: mares e chuvas.
Minha paz, minha calmaria, compartilham e partilham imensidão.

quarta-feira, 13 de agosto de 2008

um brinde.

A realidade é essa: meu corpo implora pelo ócio, pelo tempo, pela minha falsa 'liberdade' há tempos. Mas depois daquela segunda-feira minha cabeça não consegue mais optar pela 'alienação'. Não foram só lágrimas que levamos ao chão. Foi a minha sanidade. Esse cotidiano sufoca minha respiração.

domingo, 10 de agosto de 2008

Pois é.

Suponho que estamos todas presas à essa escuridão. Os dois buracos que furaram o telhado não tem conserto. A gente tapa, mas ele permanece. Somos mais que isso, mas também somos um pouco disso.

sábado, 9 de agosto de 2008

vida imensa;

Andava carregando um peso. Esqueci de tirá-lo do bolso. Joguei as pedras no lago e fiquei lá a observar. De repente senti uma calmaria, que tem variações de intensidade. Me jogaria na água e me molharia inteira. Poderia fechar os olhos e me sentir em outro lugar. Parecia que respirar não era mais esforço algum. Parecia que eu tinha batido na porta e pedido espaço para entrar. Descobri lições de química sem números ou letras, só ao respirar. Me enchi de imensidão e isso era mais próximo do que qualquer coisa.

calmaria;

Engraçado. Alguns momentos são tão cheios de si, independente de qualquer lugar ou quaisquer pessoas. Tudo anda com um ritmo diferente.
As pessoas agem como se lugares preenchessem vazios. Para mim essas coisas não valem mais. Os instantes podem ser repletos sem eu precisar estar no meio de um monte de gente em uma sexta-feira. O desespero de antes se foi. Hoje é calmaria. Uma calmaria diferente, para quem quer intensidades diferentes em momentos diferentes. Tudo merece um instante-já. Cada pessoa merece um instante-já. Parece que as coisas ficam circulando pelos espaços e pedem um momento certo para se encontrarem. Eu sinto assim, como se as coisas fluíssem leves. Nessas horas sempre me dá vontade de soltar o peso do corpo e me jogar em cima de um gramado. Acho que nem há peso nesse momento, me sinto leve. Na verdade, essa cena do gramado que eu guardo sempre na mente diz tudo. O sorriso que vejo, basta para entender como gosto de estar assim.
Me faz lembrar o comentário da Regi, que também permeou minha mente por algumas horas depois que li.
"Ai, Tati, me doa um pouco da tua tranqüilidade?
Me ensina a ser assim tão doce e calma?"
Descobri a resposta, isso é um encontro.

domingo, 3 de agosto de 2008

escolhas;

Saiu correndo. Precisava trancar todas as portas e tinha poucos segundos. Pensou que passaria vento demais. Era impossível se manter imóvel. O vento a levaria e esqueceria de deixar algo do que era em si. Foi tanta pressa que esqueceu de deixar uma saída. Então ela ficou ali, sozinha, em um corredor escuro, com várias escolhas na mão. E para onde ir, afinal?
Depois de agonizar algum tempo na escuridão, parece que uma fresta de luz iluminava a direção certa.

quinta-feira, 17 de julho de 2008

só.

Seis meses antes, tudo que eu escrevia aqui tinha um pouco de você. Seis meses depois, quase tudo que escrevo aqui ainda tem um pouco de você. Há seis meses atrás essa música afastava a saudade e apertava ela um pouco mais, talvez. Há seis meses atrás, havia pouco de mim na minha vida. Seis meses depois, há muito em mim e muito em volta de mim. Mas seis meses depois é inevitável lembrar de você inúmeras vezes. É inevitável não citar o seu nome inúmeras vezes. Nunca fui tão aberta, quanto depois que te conheci. E eu te agradeço por somente me mostrar a fechadura, em vez de usar as chaves. E depois de tudo o que se passou, com certa falta de ordem, eu só procuro uma coisa: que superar essa falta seja possível em menos tempo do que já se passou. Espero apagar a dor da saudade, e substituí-las por lembranças, espero conseguir te ver como você me vê hoje. Porque não espero mais nada desde aquele dia acompanhado pelas lágrimas escorrendo do meu rosto no banco de trás do carro. Eu só espero superar essa tristeza que me bate algumas vezes... E que hoje não sei se tem mais a ver com você, ou comigo mesma.

sábado, 31 de maio de 2008

nostalgia;

que saudade de escrever aqui. que saudade de ver tudo mergulhada em poesia.

metade-ficção;

Deu pra perceber que parte das coisas a gente inventa. Na real, mesmo o que a gente não quer inventar, acaba virando metade-ficção. A mente tem vida própria, e esperamos sempre bem mais do que vemos. De tanto querer, parece que elas ganham vida própria dentro de nós.
Me deixa perplexa. Será que o que eu espero mesmo são essas invenções? Será que o cru, os cortes mesmo não seriam melhores?
O que pode me deixar mal um dia, pode também me reerguer.

Tudo parece mais claro desde então...

uma grande invenção;

E se percebesse, em hora, que parte - talvez grande parte - do todo era uma grande invenção?
E se a jogassem de frente a parede e o que conseguisse enxergar era somente um extenso branco? E o que poderia dizer, em hora, que não fosse inventado. Talvez o silêncio seria mais puro, mais sincero. Embora que mesmo o silêncio pode ser ilusão. A mente não tem idade, é criança sempre. Inventa e brinca.

domingo, 16 de março de 2008

respiro;

tudo é tão cheio de vida que às vezes é até díficil respirar...

segunda-feira, 10 de março de 2008

uma síntese de intensidade;

Era parar em uma esquina e se tornar transparente em um enlace. Um abraço que trouxe e levou todo o peso do mundo. Tornou o vento e nossos corpos uma só coisa. Os olhos não abririam, sem força, pois lágrimas escorreriam por dez minutos sem parar. Por dez minutos, de um tempo, sem contar... Depois de um dia, depois de uma noite de um dia 12 eu aprendi a viver o que é meu. Aprendi o que foi intensidade, o que é intensidade, e agora, eu aprendi o que é celebração. De vida, e não de amor. De amor por vida, de ganhar corações... sem tê-los, sem possuí-los, de celebração.

terça-feira, 5 de fevereiro de 2008

luz;

Quando fechei as portas, sem você nem saber, lhe disse: adeus. Porque o que eu quero é parar de tentar regar um jardim de onde não saem mais flores. O que eu quero é parar de alimentar algo que não vai renascer, mas também não me deixa continuar. Sopros que só desviam o vento de rumo, ou na verdade, o fazem parar e deixar-me aqui. E estar aqui, é o pior, é entre o sentir e o vazio, é o intervalo entre os espaços de tempo, é o meio-termo.
Parecia que finalmente havia levantado da cama, e libertado os olhos daquela certa melancolia. Mas era ilusão... um golpe do tempo, e arranca-lhe para lá denovo - alguém tenta re-pintar os muros brancos. Preciso acordar, preciso acordar do sonho, antes que façam do muro, parede, e que esqueçam de fazer nelas, as janelas.
Mas antes é preciso se libertar do sonho doce...
me diga, o que é ilusão e o que pode ser real... me diz, porque eu me perdi denovo. os olhos me dizem o que realmente eu vejo, ou o que eu quero ver?

domingo, 6 de janeiro de 2008

Lembra-me um pouco;
Quando chego e quando vou;
melhor é quando esqueço,
não faz tanto sentido mais, assim.

doses cavalares de vento e tempo
é o melhor pedido do cardápio.

quinta-feira, 3 de janeiro de 2008

Abri a janela. Levei abaixo o extenso muro branco. Arranquei-lhe da cama com força. Segurei seus braços, abri seus olhos com um sopro. Pareciam imersos em certa melancolia... quase cegos... mas por mais estranho que fosse, ela ainda estava desperta. Bastava-lhe a vontade... bastava, poder soltá-la e ela ainda manter-se de pé. Me chamou, quase em silêncio, ao pé do ouvido, mas não eu quis parar para ouvir, e sem alcance, no caminho, as palavras se perderam... Algumas calaram-se antes de sair, ao encontrar as portas fechadas... sucedeu à ela então, portar-se de costas... Ahhh, lhe digo que se as palavras não se perdessem salvariam o tempo. Pelo menos parece que ela ainda persiste em manter as janelas abertas... uma dose de vento, uma dose de tempo... e abre-lhe os olhos... sempre com sopros de vida.