sexta-feira, 29 de agosto de 2008

explosões;

Tive uma daquelas sensações imensas que tem permeado minha vida nas últimas semanas. São como as explosões que Caio F. me traz diante dos olhos. Ler os morangos mofados é encontrar as duas linhas que se cruzam o tempo todo em nossas vidas, a felicidade e o abismo. Minha quinta-feira foi a síntese perfeita dessa mistura de calmaria e explosão que sempre invade meu corpo e minha mente. A sensação única de caminhar entre as árvores, pisando em folhas secas, diante de uma explosão de fogos de artíficio no céu. Algo muito próximo, quase rente ao corpo que de um segundo à outro parecia que os raios saíam mais de dentro de mim do que daquele abismo azul.

quarta-feira, 27 de agosto de 2008

jardins

Sentou na cadeira e começou a cortar. Os cabelos, sem corte há tempos - não lhe restavam horas, não lhe restava dinheiro -, passados por entre os dedos, nas manhãs-tardes de ressaca no sofá. Cortou os pés que caminhavam pela grama, ao lavar o carro imundo de lama daquele poço de onde vinha todos os dias, onde sugava e jogava sua vida de uma corda repleta de nós. Enquanto isso ela se mantinha em frente ao fogão, a vida toda escrita nas mãos em cortes e cicatrizes sem cura. Dizia-se pura, até quando - momento ao qual lograram à ele certa loucura - ele se viu perdido em uma vontade incurável de mergulha-la naquele poço, com a corda enroscada ao pescoço. Os nós perfurando a pele dela, enquanto ele ejaculava e se deliciava de um prazer inocente. Sua única felicidade acabou quando seus pulsos seguravam o ar, e ela seguia caindo por aquele imenso buraco. Sobraram a ele, os olhos imensos e brancos, dispersos por aquele buraco tão fundo, mas tão fundo, que só não era maior do que o que afirmava carregar no corpo.
Embebedou-se daquela porra toda, enquanto ela se arrastava pelos cantos do quarto. Quando acendeu a luz, não havia ninguém. Entre aquelas paredes só restava uma sombra consumida pela culpa. Sobravam-lhe cinco anos da conta que tinha feito aos 35. Foi só o tempo de imendar as feridas, e do fio soltar-se logo que admitiu - não tinha culpa - era o carro mal lavado, o serviço mal pago. Arrastou o fio pelas veias, para encontrar-se no gelo que lhe parecia familiar.

terça-feira, 26 de agosto de 2008

clamo.

Tudo bem. Não seria alguém que você lembraria se passasse. Eu ando meio no escuro, e me alimento de luz - de longe. E hoje eu clamo por ela. E pelo escuro e por qualquer coisa dessas, mas que eu possa sentir com calma. Não quero ter que engolir tudo tão depressa, e digerir também o tempo - se me sobra nas horas. Eu sinto um certo nojo e um certo repúdio quando começo todos os dias. Eu sinto que queria estar rindo da sua cara e chorando da minha. Um vômito engasgado e nele toda a minha vida.

Eu sinto o gosto da mordaça... e que em breve, ela cai.

quinta-feira, 21 de agosto de 2008

descoberta do mundo.

Geralmente ele brilha no escuro, sabe? Mas às vezes uma luz se apaga e ele se perde na escuridão. Eu já decorei esse rosto. Só me resta saber se é descoberta ou se é luto. Se a escuridão alimenta ou destrói. Parece uma armadura. Um olhar doce, que traz e esconde.

segunda-feira, 18 de agosto de 2008

sintonia

Chego da cidade arranha céu com um turbilhão passando pela mente. Tudo o que precisava era sentar e sintetizar aqui tudo o que se passou nesses três dias. Então, chego à praça e uma cena me paralisa e me faz voltar no tempo. Há um ano estávamos aqui. E tudo me fugiu à mente. De vida bolha à quase estranhos.

paz.

Duas coisas essenciais aos meus finais de semana: mares e chuvas.
Minha paz, minha calmaria, compartilham e partilham imensidão.

quarta-feira, 13 de agosto de 2008

um brinde.

A realidade é essa: meu corpo implora pelo ócio, pelo tempo, pela minha falsa 'liberdade' há tempos. Mas depois daquela segunda-feira minha cabeça não consegue mais optar pela 'alienação'. Não foram só lágrimas que levamos ao chão. Foi a minha sanidade. Esse cotidiano sufoca minha respiração.

domingo, 10 de agosto de 2008

Pois é.

Suponho que estamos todas presas à essa escuridão. Os dois buracos que furaram o telhado não tem conserto. A gente tapa, mas ele permanece. Somos mais que isso, mas também somos um pouco disso.

sábado, 9 de agosto de 2008

vida imensa;

Andava carregando um peso. Esqueci de tirá-lo do bolso. Joguei as pedras no lago e fiquei lá a observar. De repente senti uma calmaria, que tem variações de intensidade. Me jogaria na água e me molharia inteira. Poderia fechar os olhos e me sentir em outro lugar. Parecia que respirar não era mais esforço algum. Parecia que eu tinha batido na porta e pedido espaço para entrar. Descobri lições de química sem números ou letras, só ao respirar. Me enchi de imensidão e isso era mais próximo do que qualquer coisa.

calmaria;

Engraçado. Alguns momentos são tão cheios de si, independente de qualquer lugar ou quaisquer pessoas. Tudo anda com um ritmo diferente.
As pessoas agem como se lugares preenchessem vazios. Para mim essas coisas não valem mais. Os instantes podem ser repletos sem eu precisar estar no meio de um monte de gente em uma sexta-feira. O desespero de antes se foi. Hoje é calmaria. Uma calmaria diferente, para quem quer intensidades diferentes em momentos diferentes. Tudo merece um instante-já. Cada pessoa merece um instante-já. Parece que as coisas ficam circulando pelos espaços e pedem um momento certo para se encontrarem. Eu sinto assim, como se as coisas fluíssem leves. Nessas horas sempre me dá vontade de soltar o peso do corpo e me jogar em cima de um gramado. Acho que nem há peso nesse momento, me sinto leve. Na verdade, essa cena do gramado que eu guardo sempre na mente diz tudo. O sorriso que vejo, basta para entender como gosto de estar assim.
Me faz lembrar o comentário da Regi, que também permeou minha mente por algumas horas depois que li.
"Ai, Tati, me doa um pouco da tua tranqüilidade?
Me ensina a ser assim tão doce e calma?"
Descobri a resposta, isso é um encontro.

domingo, 3 de agosto de 2008

escolhas;

Saiu correndo. Precisava trancar todas as portas e tinha poucos segundos. Pensou que passaria vento demais. Era impossível se manter imóvel. O vento a levaria e esqueceria de deixar algo do que era em si. Foi tanta pressa que esqueceu de deixar uma saída. Então ela ficou ali, sozinha, em um corredor escuro, com várias escolhas na mão. E para onde ir, afinal?
Depois de agonizar algum tempo na escuridão, parece que uma fresta de luz iluminava a direção certa.