quinta-feira, 21 de maio de 2009

indizíveis da madrugada.

Meu amor, se eu te contasse o que eu vi nesse nosso aparente sonho. O quanto me dói nos dizer que é nosso e é só um. Se eu dormir agora posso matar o que poderíamos conhecer.


Me vira, me vira a cabeça e eu fico pensando naquela cena, ou talvez melhor, eu fico sentindo aquele ar e eu estou ali:


Amor, eu estou sentada naquela varanda, aquela bonita varanda com aquela visão de galhos secos, lindos galhos secos que permeiam a praça e ela é tão linda e seca. Ela é assim, crua e nua, não tem nada, ganha um pouco quando alguém passa por ela... assim ganha algum caminho. Fora disso é nua, crua, quase dormente, tem o piso formigando todo, à espera de alguma explosão.

Se o Caio passasse ali jogaria alguém ao ar. Caio choraria umas lágrimas leves e pesadas ao mesmo tempo, mas como é que eu consigo te explicar, como é lindo ver, ele lhe daria cores sem pintar nenhuma parte. Ele comeria cores, vomitaria cores, jogaria elas todas ali... naquele nosso quadro branco e preto.


Você me diz que tem três horas pra nos pertencer, e eu te digo o mundo inteiro. Afinal o que me aparece são essas horas todas, à essas horas, elas nos cobrem, nos levam daí, nos levam daqui. Aquela janela era tão diferente... Eu te diria que ela não tinha as cores que deveria ter ao mesmo tempo que tinha. Essa falta de cores que é nossa, essa falta de cores que nos encobre o riso... que acompanha os segundos quando eles apenas são. Porque nessas horas eles apenas são. Nós somos apenas dois sorrisos, você mais um, você são três. Três sorriso você, um sorriso meu, e a gente fica assim... nós somos parte do segundo do mundo e pronto. Parte do segundo do mundo avança e tenta bater como relógio tic, tac, tic, tac... e hoje ele está a meu favor. Prometeu que ia me ouvir, prometeu que ia-me rir e agora até ri sem motivo, sem querer, sem alguma coisa que o levasse à mais simples mudança de expressão.


Eu repetiria mil vezes como a minha morte começa nesse terceiro sorriso... e a minha vida também. Eu não sei mais o que fazer bem, se eu acordo eu bem penso, se durmo bem vejo. Eu queria te contar da maneira mais simples possível e daí me complico...


éramos nós, era uma janela, e era sete horas, de três horas que você pediu... você procurou flores e elas murcharam, eu esperei um tempo e ele ultrapassou.

domingo, 17 de maio de 2009

meu amor de porta.

Abracei a porta com gosto, afinal era ali que o segredo ficaria bem guardado. Fechei cuidadosamente, testando o cadeado mais de três vezes para me certificar que ninguém encontraria o que afinal, era tão meu que ficava naquele cômodo escuro, sem janelas, porque se por alguma sorte alguém conseguisse arrombá-la, faltaria-lhe luz. Tentei ficar longe, mas não consegui. Me arrastei porta abaixo, até chegar ao chão, sentei exausta. Do que eu poderia chamar aquela coisa que nem eu mesma consegui dar nome? Tinha um certo ódio por guardá-la tão bem e sempre, por ser tão minha, por de certa forma não conseguir compartilhá-la com ninguém. Pensei em esquecer as chaves sobre a mesa ou inventar histórias mirabolantes para despertar a curiosidade de alguém e fazê-lo querer abri-la, pensei até em implantar alguma lanterna no caminho como um falso descuido. Pensei tanto que cansei. A raiva e a angústia pareciam só crescer e eu arranhava a pele, minhas unhas percorriam lentamente todo o meu braço com força para sufocar essa culpa. Eu comecei a odiar aquela imagem sem graça no espelho, sem graça e sem voz. Esse corpo de sussuro que eu pensava, meu deus, porque estar. Eu poderia achar graça do que ficava atrás da porta e nem me importar. Mas parecia que isso me consumia cada vez mais. Passava horas distante, com outros afazeres, pensando que talvez pudesse esquecer o fato de que havia algo. Eu odiava com um certo amor, amava com um certo ódio e comecei a ficar enjoada daquele pedaço de alguma coisa. Pensei em largar tudo e guardar a porta, me deu um certo alívio pensar que assim finalmente tudo ficaria seguro e protegido. Os olhos arregalaram e de repente percebi... a porra do mistério era eu.

sábado, 9 de maio de 2009

suave...

tem umas pessoas tão leves e tão belas que às vezes parece que a vida começa e acaba nelas... é um mundo inteiro girando e explodindo em umas cores suaves que levam longe, tão longe... é como esse mundo das palavras extensas, que a gente lê e parece abismo ou apenas o início...

eu tenho os olhos molhados de vida, um gosto de sal, de água do mar dentro e fora... e uma imensidão que viaja e forma...

uma aprendizagem ou o livro dos prazeres...

"Teus olhos, disse ele mudando inteiramente de tom, são confusos mas tua boca tem a paixão que existe em você e de que você tem medo. Teu rosto, Lóri, tem um mistério de esfinge: decifra-me ou te devoro."

C.L.

sexta-feira, 8 de maio de 2009

movimento...

Sabe quando parece que sua mente está com um atraso de meses e meses e que ela finalmente voltou a funcionar? Nada como o ócio para movimentá-la e me dar tempo para ler tudo que eu queria ou pelo menos pra ver a manhã e o final da tarde como eu tanto queria. Nada de comer o dia rápido, agora é mastigá-lo devagar e prestando atenção em cada pedacinho...

segunda-feira, 4 de maio de 2009

O mais difícil dessa vida nômade é que no final, você não se liga a nada e nem a ninguém. O que eu mais quero bate de frente com o que eu menos quero.

domingo, 3 de maio de 2009

superfície.

Talvez quanto mais a nossa casa pareça confortável, mas a gente fica presa à ela. O lar deveria ser um buraco onde a gente só quer se enfiar para dormir, comer ou qualquer coisa assim, com pouco tempo. Lá fora tem mais cara de casa e talvez eu me sinta melhor andando por aí. Porque até na calçada, no gramado ou na mureta eu fico melhor e posso sentar durante minutos intermináveis. Quando atravesso a porta parece que tudo faz mal, quanto mais doce parece pior. Talvez eu fosse mais feliz quando as paredes eram brancas e a casa tão vazia que eu saia pra rua sem rumo porque parecia mais familiar.
Descrevo tudo nos mínimos detalhes para que talvez você possa entender e explicar, mas porque no final acho que é mais fácil eu ordenar as idéias e chegar a entender porque a tempestade é contínua. Porque mesmo que não pareça, eu quero sair dela, só estou tentando entender como.
queria saber pra onde vai essa onda escura...

dias azuis.

Tem a cara da noite brilhando e eu seca, da minha garganta seca arranhando a minha fala. O gosto dessa dor sem sangue, e suga a tudo... Tem o olhar que me enfrenta às vezes e eu prefiro nem pensar mais. Essa ligação distante de espaço que insiste em me dizer que algo é semelhante aqui e lá... A paisagem parece tão mais forte e eu às vezes só quero ser meio parte dela, ou só aquele olho gigante para descrevê-la... até que às vezes eu tento quando alguém chega mais perto, e por um mínimo de esforço que alguém merece até fica tudo mais perto e mais úmido.
Parece algum sonho que eu vivo sempre depois de acordar... eles me fazem andar, andar sem parar... me levam perto de algum abraço que me faz lembrar que a gente é uma coisa bem maior do que essa parte amarela.
alguma música do my bloody valentine ou depreciation guild tocando... e eu parte dela.