ritmia.

desvendar os olhos e inflar o coração...

subindo uma corda e escorregando pelos nós...
caminho tortuoso
de si para os outros...

cadê o pulso no meu passo...
aqui o coração é mudo
e alimenta o desejo
da paz que vem com o vento da estrada...


a estrada pulsa no meu peito
bombeando sangue para o coração

Névoa...
as horas encobertas
um disfarce para o relógio
quando passa...
tudo toca
e ao mesmo tempo nada.
só os ponteiros do relógio giram e junto contorce o peito...
o quanto mora no silêncio?
que verdade traz a tristeza?
que caminho se toma
quando tudo é passado
que instante se constrói?

Hoje eu só preciso tatear a vida... sem palavras para descrever. Sentir esse universo que conecta, aproxima e afina... Esse aprendizado que vem dos próprios passos, de olhos e ouvidos atentos - e de coração quente.

um constante pisar em território que precisa ser re-conhecido...

Ser e estar diante do abismo da vida, leves e atentos, entre avalanches e redemoinhos, aprendendo a brincar com o sopro que passa pelo vazio do coração...

sobre a vida, os amigos e as telepatias...

o universo... respira, transpira, conecta... afina.

A gente conhece-se-reconhece com as pessoas no olhar. É como uma comunhão...
Se é, é.

"Não apresse o rio, ele corre sozinho..."

A água que cai sem pressa sobre as ruas amarelas pela madrugada... se a solidão tem cor e cheiro deve ser parecido com esse.  Tocando a pele do mundo com uma mão apertando o peito. Um suspiro. É tanto amor para um mundo sem amor... Se a tristeza é verdadeira, que verdade traz? Eu só sei que não apresso o rio... uma hora a gente chega que nem a água. A vída é fluída, líquida. A vida é.

Num plano ideal, a gente conseguiria arrancar alguém da mente pra sempre e cortar as raízes mais profundas no coração. Mas como diz a Gal, "eu sou amor... da cabeça aos pés..."

o processo de amadurecimento pt. 2

É se desprender do que ainda nos aprisiona à poucos possíveis.

viola, passarinho, mar, final de tarde, cachoeira, sentir o sereno do cerrado, abrir o coração em vento. é de ir, é de passagem, é de vida que é instante e que se funde com o que a permeia...

(é a estrada botando sentido em mim...)

Nos surpreende quando o tempo parece convergir tanto para algum lugar que já vibra.

'a inspiração é o momento da síntese'

Cem anos de solidão me parece ter sido a de toda uma vida.

o corpo é passagem.
sentir é luz.
e o devir...

a falta martela o peito e nos torna tão pequenos...

uma interrogação, um vazio, uma falta... e todas essas coisas que nos movem.

O processo de amadurecimento é um deslocamento de si para si. Para depois poder tocar nos outros.

se entender nesse outro tempo é um grande desafio...

Gosto de sentar no inverso da cama e olhar o céu. Entre as paredes brancas e a telha meu olhar dá de encontro com um imenso azul. Me faz pensar que a gente é só um ponto, só uma possibilidade das infinitas desse mundo, do universo... e se a gente sofre pela perda também é pelo apego, é por acreditar que o campo das possibilidades se acaba antes da telha, é por esquecer que a caminhada ainda é vasta e repleta de outros. Essa sim é a morte.

sobre as férias.

Tem algumas pessoas que são essenciais na nossa vida porque estão um passo além, um pouco a frente do ponto em que você está, já conquistaram sonhos que você ainda pensa em conquistar, pisam em solo que você desconhece, e, principalmente, já superaram a ansiedade de querer tudo ao mesmo tempo e, por isso, sabem aproveitar tudo muito melhor. Tem outras pessoas que são tão especiais como essas, mas que estão muitos passos atrás, ainda trilham um caminho por onde você já passou e que vez ou outra te arrancam a paciência pela ansiedade em vê-las atravessar esse tempo, que às vezes parece curto... mas quando vasculhamos a memória, lembramos que é um tanto longo. Mas existem aquelas que apesar de tão diferentes, estão exatamente no lugar em que você está, no mesmo nível de maturidade, têm a mesma vivência, os mesmos sonhos e as mesmas ansiedades. Também estão a esperar por algo, conscientes de tudo que já se passou, sabem por onde já estiveram e o quanto isso as modificou. Se veem um pouco ali a frente, mas compreendem que ainda existe um longo caminho a percorrer. Essas fazem uma falta tremenda quando não estão por perto. São com elas que a gente pode desabafar como com ninguém outro. Só elas te entendem com um olhar. E é essa falta que a gente sente que parece ser a vida pulsando. A falta de poder sequestrar alguém em uma noite chuvosa e fria para conversar, um desejo tão forte de poder ver denovo um animal tão amado e agora tão distante pisando novamente com as quatro patas na cozinha. Nós somos o que nos falta. Nós somos o que nos falta. Clarice me disse e é verdadeiro. Mas isso também é a nossa pele respirando vida pelos poros. Não há como escapar.

sair do casulo, pisar denovo no mundo sujo, meu coração ultimamente tão desprotegido e umas pessoas que alumiam o caminho... sobrevivendo aos socos no coração e ouvindo os sopros passando com o som suave pelo buraco vazio... 'nós somos o que nos falta'.