Há meses atrás ele nunca me abraçaria e diria que sente saudades.
Eu era outra. Ele também?
quarta-feira, 29 de dezembro de 2010
segunda-feira, 13 de dezembro de 2010
agora eu posso dizer que acabou.
Foram trinta minutos de não existência, talvez muito mais que isso, antes e depois. Ainda é uma incógnita para mim se eu estava realmente falando, ouvindo, comemorando... nada me parecia real. O ritual de passagem só se completa quando a chuva finalmente leva embora aquele peso todo, tão colado e espesso ao nosso corpo, e enfim, quando o vento bate no rosto durante uma noite quente dizendo que realmente é tempo novo.
terça-feira, 7 de dezembro de 2010
quarta-feira, 1 de dezembro de 2010
domingo, 14 de novembro de 2010
"Parece que uma corrente elétrica nos atingiu e agora ela passou..."
Ninguém te ensina o que fazer com a sujeira que fica embaixo da unha depois de dias de poeira.
sexta-feira, 5 de novembro de 2010
sobre a casa vazia.
Elas entram pela porta e sinto que nada mudou.
Mas, de repente, elas vão embora e vem uma sensação que eu fico digerindo por dias até perceber que é... vai ser sempre assim agora.
Mas, de repente, elas vão embora e vem uma sensação que eu fico digerindo por dias até perceber que é... vai ser sempre assim agora.
quarta-feira, 13 de outubro de 2010
às vezes eu queria ter uma explicação plausível, e só.
Fui rabiscando o chão com passos curtos, indo e voltando, e por horas talvez andando em círculos, e percebendo que não me deram todas as palavras do mundo para explicar as coisas. Faltou alguma coisa no meu vocabulário que nunca se completou o suficiente para que eu possa explicar as coisas que vêm mais lá do fundo. E de certa forma, percebi que ah, nem eu me compreendo às vezes por isso. Mas por algum milagre, algumas palavras vão caindo, passando pela minha garganta, encontrando o meu coração e lentamente vão mostrando algum sentido visível para o que se passa nele. E eu agradeço, enfim, por essas raridades.
Mas quando elas não surgem, eu fico costurando sentidos com todas as linguagens possíveis, de respiros, poesias, silêncios, humores, até que tudo isso forme alguma letra decifrável (pra mim, acima de tudo).
e tudo acontece tão rapidamente...
Demora um tempo, mas daí você percebe que algumas coisas acabaram pra sempre. E dá vontade de ter agarrado cada segundo dos momentos em que tudo existia daquela forma.
quarta-feira, 6 de outubro de 2010
É sol.
É sol, final de tarde, silêncio, espaço quase vazio, mas metade cheio aqui dentro - de amor, esperança, paciência e outros sentimentos bobos que a gente se enche em final de ano. É impossível estar indiferente ao turbilhão que esse ano está sendo - e quase já não é mais - e à incógnita que o próximo ano é. Tão assustador, como desafiador, como convidativo. E eu fico aqui inebriada pela força que cada dia que passa tem e pela proximidade de novos.
sábado, 2 de outubro de 2010
ah!
No meio desse mundo vasto e que muitas vezes parece vazio de coisas que realmente me toquem, surgem algumas pessoas caminhando como formigas no meio do concreto sujo e áspero, tão formidáveis e bonitas que conseguem, apenas com uma palavra, arrancar um suspiro.
segunda-feira, 27 de setembro de 2010
sexta-feira, 24 de setembro de 2010
segunda-feira, 13 de setembro de 2010
blue monday.
Meus amores são azuis. Turbulentos e calmos como o mar... imensos como só ele também... água como o elemento que corre pela minha pele, que aguça meus ouvidos, que é tão sinestésico, que faz meus olhos e ouvidos atentos. Eu guardo no tempo, pra sempre, alguns pedacinhos desses mares, dos instantes mais preciosos, que poderiam ser tão óbvios, mas eu funciono de alguma forma fluída e sem sentido aparente, então, são alguns pedaços únicos e que só fazem sentido pra mim. Eu poderia descrever o que é o amor pelo estímulo que certas coisas me causam... uma voz, selvagem e rouca e tão de menino enquanto gemia de prazer... um abraço em uma esquina amarelada, em que corpos eram vento e vento era só cor... um sorriso que lembrará pra sempre brilho eterno de uma mente sem lembranças... mais do que qualquer outra coisa é dessas lembranças que se alimenta o meu amor. Eu sei do meu amor quando me toca qualquer instante desse... sei do meu instante-já pela sensação que me causa. Eu amo, como numa tela impressionista, pela mistura das cores, embaçadas e fluídas, que se entrelaçam em harmonia diante do nosso olhar, que se juntam, de alguma forma não nítida, que impressiona e toca. Como o vermelho que sangra da floresta de Portinari. Eu sei que eu amo pela vibração da minha pele enquanto eu leio cada linha tua escrita à pele e coração, vestidas de um olhar dedicado à ver e reparar em alguém que o mundo esqueceu.
Meus amores são como a sensação calma que uma música pode provocar nessa noite silenciosa penetrando e saindo do meu corpo a cada instante...
Meus amores são como a sensação calma que uma música pode provocar nessa noite silenciosa penetrando e saindo do meu corpo a cada instante...
quinta-feira, 9 de setembro de 2010
é...
Depois de um desânimo carregado meses à fio, da minha desistência e entrega à melancolia, algo conseguiu perfurar as minhas entranhas secas e fazer o sangue circular quente novamente. É tanta vida aqui dentro circulando, que tudo se confunde e o tempo volta a tatear a minha pele, e sinto na boca do estômago e enfrento com os olhos úmidos esse nove de setembro.
Até que eu me deparo com você, de sobrancelhas baixas, boca um pouco aberta e o coração no olhar. E eu sei que é ali que mora o que eu preciso dizer.
Até que eu me deparo com você, de sobrancelhas baixas, boca um pouco aberta e o coração no olhar. E eu sei que é ali que mora o que eu preciso dizer.
quarta-feira, 8 de setembro de 2010
além do que se vê.
Todo mundo é um barato quando se vive na superfície e distante. A estrada me diz muito mais sobre os laços do que vivências passageiras. Não me importa conhecer o mundo e retornar a mesma.
terça-feira, 7 de setembro de 2010
domingo, 5 de setembro de 2010
E enfim, tudo volta lentamente a pulsar...
Eu nadei tanto e tanto, e mesmo com tanto cansaço, e ainda no meio do percurso, notei que algo florescia nos meus olhos, singelo e forte. E de repente, comecei a colocar cores no mundo, só pra agradar os meus olhos sedentos de vida e cheios de saudade.
quarta-feira, 1 de setembro de 2010
tempo.
Eu me lembro, eu tenho essa imagem na mente, eu lembro que há meses atrás eu era melhor. Eu não estava tão cansada, eu não tinha desistido de lutar por algumas coisas que eram tão importantes, eu não tinha esquecido como faz para contar à uma pessoa como você gosta dela, eu aproveitava tanto os meus dias de um jeito que eu não lembro mais, eu queria conquistar as ruas todas aos sábados e domingos, eu escrevia coisas sensíveis e tatéis aqui.
E agora tem essa nuvem embaçada na minha frente. E eu não lembro de nada, e não posso mais tentar lembrar, porque tem tanta coisa na frente dos meus olhos que eu preciso enxergar antes.
Eu só quero colocar os pés na areia e passar uma tarde inteira ouvindo o som infinito do mar...
E agora tem essa nuvem embaçada na minha frente. E eu não lembro de nada, e não posso mais tentar lembrar, porque tem tanta coisa na frente dos meus olhos que eu preciso enxergar antes.
Eu só quero colocar os pés na areia e passar uma tarde inteira ouvindo o som infinito do mar...
quinta-feira, 26 de agosto de 2010
Espetáculo natural
São tantas explosões e flashes por segundo no céu
de passagem de ano que se tornou impossível vislumbrar a
Madrugada de Ano-Novo chegando, mansinho,
e aninhando-se no leito ainda quente do velho céu
embriagado.
Os estouros assustam os animais e as crianças pequenas,
que nunca viram guerra, senão de chocolate, nos sonhos.
E o mundo, que já viu tantas, acostumou-se com esse barulho tão semelhante ao das guerras?
Eu também me assusto: quero antes barulho de chuva
caindo sobre o telhado.
As estrelas cadentes estão indignadas
com suas concorrentes artificiais e negam-se
a cair sobre esse mundo decadente.
E talvez, quem sabe, a Madrugada de Ano-Novo, assustada,
criança, fuja para as fazendas etéreas
para se esconder debaixo dos braços de Deus.
E talvez os anos passados estejam reciclando-se,
já há muito, para substituí-la e estejamos
arrastando nossas vidas ao redor de um círculo vicioso
que avança e recua, progride e regride,
como sobre uma esteira que ao chegar ao término
volta ao ponto inicial de um mesmo ano,
cada vez mais velho e ultrapassado.
Mas o que aqui proponho são apenas mitos.
O que aí está são ritos, vícios, artíficios!
Já que não podemos ver o espetáculo natural no céu,
por favor, não passemos a virada do ano olhando artíficios.
Olhemo-nos nos olhos,
pois que ela, a Madrugada de Ano-Novo,
neles sim, aninha-se e bota um ovo.
de Ricardo G. Dias.
Retirado de "Caminhos da Fortuna", livro infantil escrito por Ivan Fortunato e ilustrado por Ricardo Gracindo Dias.
de passagem de ano que se tornou impossível vislumbrar a
Madrugada de Ano-Novo chegando, mansinho,
e aninhando-se no leito ainda quente do velho céu
embriagado.
Os estouros assustam os animais e as crianças pequenas,
que nunca viram guerra, senão de chocolate, nos sonhos.
E o mundo, que já viu tantas, acostumou-se com esse barulho tão semelhante ao das guerras?
Eu também me assusto: quero antes barulho de chuva
caindo sobre o telhado.
As estrelas cadentes estão indignadas
com suas concorrentes artificiais e negam-se
a cair sobre esse mundo decadente.
E talvez, quem sabe, a Madrugada de Ano-Novo, assustada,
criança, fuja para as fazendas etéreas
para se esconder debaixo dos braços de Deus.
E talvez os anos passados estejam reciclando-se,
já há muito, para substituí-la e estejamos
arrastando nossas vidas ao redor de um círculo vicioso
que avança e recua, progride e regride,
como sobre uma esteira que ao chegar ao término
volta ao ponto inicial de um mesmo ano,
cada vez mais velho e ultrapassado.
Mas o que aqui proponho são apenas mitos.
O que aí está são ritos, vícios, artíficios!
Já que não podemos ver o espetáculo natural no céu,
por favor, não passemos a virada do ano olhando artíficios.
Olhemo-nos nos olhos,
pois que ela, a Madrugada de Ano-Novo,
neles sim, aninha-se e bota um ovo.
de Ricardo G. Dias.
Retirado de "Caminhos da Fortuna", livro infantil escrito por Ivan Fortunato e ilustrado por Ricardo Gracindo Dias.
terça-feira, 24 de agosto de 2010
eu queria dizer...
Eu agarraria cada segundo de tempo que me parece mínimo, e que ao mesmo tempo eu carrego com as mãos fechadas e fortes, e são tão raros, que quando acabam, parece que mesmo com tanta força, eles escorrem pela minha mão... E só fica eu ali, estática, no meio daquelas luzes amarelas que vibram ainda reproduzindo a minha pulsação...
e eu só queria dizer...
e eu só queria dizer...
quinta-feira, 19 de agosto de 2010
terça-feira, 17 de agosto de 2010
quinta-feira, 12 de agosto de 2010
domingo, 1 de agosto de 2010
últimos dias.
Tateou com os pés descalços o chão da cidade mineira, descascou laranjas sentada no chão e comeu cada uma sentido aquele gosto único, pintou as unhas com as cores do café, furou as orelhas virgens de sessenta anos e as enfeitou com brincos. Partiu bonita e livre, como uma criança (re)descobrindo as suas origens.
quinta-feira, 29 de julho de 2010
quarta-feira, 28 de julho de 2010
quarta-feira, 21 de julho de 2010
tum-tum, tum-tum...
De repente... o sentimento fica tão forte que transcende a pele, ultrapassa os poros e bate em você.
quarta-feira, 14 de julho de 2010
sobre as férias.
Enfrento os dias com os olhos descobertos, as palavras mudas e esquecidas... Sem garras, na ponta do nariz da memória, no que pode se transformar em forte, porque ainda é tão fraco. Fraco em não agir com indiferença à todo esse turbilhão que a estrada carrega.
Eu estou aqui com o coração nas mãos. E caminhando sem forças, só para onde o vento me leva... Eu não tenho forças para enfrentar o poder que essas memórias tem sobre o meu corpo, sobre a minha mente, sobre a minha paz...
Eu estou aqui com o coração nas mãos. E caminhando sem forças, só para onde o vento me leva... Eu não tenho forças para enfrentar o poder que essas memórias tem sobre o meu corpo, sobre a minha mente, sobre a minha paz...
sexta-feira, 2 de julho de 2010
"A plenitude tornou-se dolorosa e pesada e Joana era uma nuvem prestes a chover. "
Eu agarrei cada palavra que poderia gritar pela minha boca. Eu amarrei minha garganta porque eu não tinha direito de ferir ninguém, de querer nada por ninguém. Eu só tinha direito de ficar calada no meu canto sofrendo cada pedacinho do amargo gosto da derrota que é ver o amor escorrendo pelo ralo. Não se pode sentir pelos outros. Não se pode prender ninguém. Eu dei a liberdade de alguém fazer meu coração escorrer. Eu sempre me calei e amarrei as palavras fundo na garganta pra nunca invadir ninguém. Eu prendi elas e elas comeram todos os pedacinhos do meu fígado. Elas correram pelas minhas veias, elas me cutucuram por noites e dias. Eu sofri calada para não invadir ninguém. E deixei isso tudo invadir cada centímetro do meu corpo. E em troca, recebi egoísmo.
Acredito mais nelas, que sentem o ruído da vida pelo ventre, dizem pelos olhos e pela pele, mudos e repletos, - e por fim, desaguam com o mesmo poder de se manter de pé.
quarta-feira, 30 de junho de 2010
mães e suas redomas de vidro.
Eu nunca vi os olhos da morte. Ela me parece mais com alguém que vai comprar cigarros e nunca volta pra casa. Ela não tem gosto, cheiro ou tato.
O dia estranhou logo de manhã e assim continuará. O tempo corre lento no meu relógio, enquanto o mundo vive aos tropeços. Até que a escuridão cubra o dia... enfim, alguma coisa finita... ou não.
O dia estranhou logo de manhã e assim continuará. O tempo corre lento no meu relógio, enquanto o mundo vive aos tropeços. Até que a escuridão cubra o dia... enfim, alguma coisa finita... ou não.
sábado, 26 de junho de 2010
Passei a tarde, noite e manhã inteiras tentando me livrar da sujeira que estava impregnada neles. Porque as coisas fluem e se espalham pelo ar... e daí fica assim: eu respirando a agonia toda. Felizmente os acasos surgem e me trazem um pouco de luz. Mas ainda há resquícios que que precisam de tempo pra sair do corpo.
domingo, 20 de junho de 2010
Perto do coração selvagem.
- O que vai acontecer comigo?
- Não sei - respondeu ele depois de um curto silêncio - talvez você seja feliz alguma vez, não compreendo, de uma felicidade que poucas pessoas invejarão. Nem sei se poderia chamar de felicidade. Talvez você não encontre mais ninguém que sinta como você, como...
C.L.
- Não sei - respondeu ele depois de um curto silêncio - talvez você seja feliz alguma vez, não compreendo, de uma felicidade que poucas pessoas invejarão. Nem sei se poderia chamar de felicidade. Talvez você não encontre mais ninguém que sinta como você, como...
C.L.
segunda-feira, 14 de junho de 2010
sexta-feira, 11 de junho de 2010
quinta-feira, 27 de maio de 2010
sexta-feira, 21 de maio de 2010
quinta-feira, 13 de maio de 2010
Eu tenho as lembranças mais bonitas de alguém que existiu somente por um tempo. Me parece alguém que vive de existências. É mais fácil fugir dessa forma quando não se quer ter coragem. Esconde-se tanto da vida que não é mais possível encontrá-la e talvez ela tenha se tornado muito ruim mesmo com as fugas todas para querer voltar a ser.
segunda-feira, 3 de maio de 2010
não se enxerga nada pela superfície.
Esfreguei a pele bem forte para me libertar de toda aquela sujeira. Rasgando os poros e tentando me libertar de algo que eu não sabia ao certo de onde veio. De nada adiantou, aquilo estava solto no ar e de lá alcançava a minha superfície. Agradeci porque só até ali chegaria. Nada conseguiria ferir o que de fundo havia em mim - é lá que se encontra o que há de puro e verdadeiro. Embora haja quem só conheça superfícies.
quinta-feira, 29 de abril de 2010
na velocidade da queda...
Eu prezo pela desconstrução.
Mesmo brigando com os sedimentos tão agarrados à minha pele.
Mesmo brigando com os sedimentos tão agarrados à minha pele.
sábado, 24 de abril de 2010
psiu. (2)
Eu não tenho saudades de você. Eu tenho saudades daquela certeza verdadeira que brotava dos meus olhos.
domingo, 11 de abril de 2010
quarta-feira, 7 de abril de 2010
segunda-feira, 5 de abril de 2010
terça-feira, 30 de março de 2010
segunda-feira, 29 de março de 2010
Meu coração inflado.
É um conforto ter um lar e não uma morada na segunda casa. Ir é sempre ganhar e perder. E às vezes a gente ganha muito mais do que perde. Meus lares nômades me completam.
domingo, 28 de março de 2010
segunda-feira, 22 de março de 2010
de quem é o poço?
Cama macia pra dormir, ração pra comer, chuveiro pra aquecer, livro pra ler, tv pra entreter, computador pra virtualviver. E ele sem teto e sem chão. O estômago que range uma fome só - sem olhos pra desejar.
domingo, 21 de março de 2010
sábado, 13 de março de 2010
segunda-feira, 1 de março de 2010
sábado, 27 de fevereiro de 2010
sexta-feira, 26 de fevereiro de 2010
Só queria lembrar.
Queria anotar algumas coisas em um papel, amassá-lo junto com um monte de outros papéis, e guardá-lo no lugar mais fundo do armário. Só pra ninguém ler e eu lembrar de algumas coisas que ficam guardadas tão fundo na mente que dá medo de perder...
terça-feira, 23 de fevereiro de 2010
"Abraça tua loucura antes que seja tarde demais."
"Mas estávamos ali, como dois sobreviventes - para usar a linguagem que ele provavelmente teria, se falássemos disso - de um naufrágio. Ou para usar a minha própria linguagem, essa de gente que vive amontoada entre outras gentes, mesmo quando se retira, porque a vida incha lá fora, invadindo as janelas fechadas, sobreviventes de uma série de fracassos iguais e mesmas tentativas, idênticas queixas, esperas inúteis, mágoas inconfessáveis de tão miúdas. Eu podia falar lento, deixando o que dizia escorregar da garganta para a língua, da língua em movimento contra o céu da boca para os lábios, que com o ar soprado entre os dentes formaria palavras um pouco ao acaso, sem muita importância..."
(O marinheiro, Caio F.)
domingo, 21 de fevereiro de 2010
segunda-feira, 15 de fevereiro de 2010
meu peito inflado.
É inegável a paz de se estar em volta da roda toda e não ter olhos pra ninguém além daquele núcleo quente e próximo que faz o movimento de se mexer os lábios o mais simples, e as palavras voam, voam na velocidade em que o coração bate, tão rápido e feliz por estar ali. Demonstrar qualquer coisa já é mais com olhar do que com qualquer palavra.
E qualquer coisa que provoque os olhos, os ouvidos ou a boca, já faz estremecer a pele. Tantas e tantas sensações e tantos e tantos toques de vida. No asfalto não sobrará os pedaços de cores do carnaval, só no nosso peito como resquícios desses dias todos.
E qualquer coisa que provoque os olhos, os ouvidos ou a boca, já faz estremecer a pele. Tantas e tantas sensações e tantos e tantos toques de vida. No asfalto não sobrará os pedaços de cores do carnaval, só no nosso peito como resquícios desses dias todos.
sexta-feira, 12 de fevereiro de 2010
pra quem sabe quem.
Menina, aumenta a roda do vestido! E gira rápido, rápido... sem medo!
Só não te esquece de ouvir o vento
Ele pode assoprar nos teus ouvidos,
te roubar o tento...
Só não esquece que o mundo todo é teu amigo - nos pequenos cantos
Já nos grandes, toma tento!
Cuida com os olhos e os ouvidos, mas nem por isso deixe de girar...
Só não te esquece de ouvir o vento
Ele pode assoprar nos teus ouvidos,
te roubar o tento...
Só não esquece que o mundo todo é teu amigo - nos pequenos cantos
Já nos grandes, toma tento!
Cuida com os olhos e os ouvidos, mas nem por isso deixe de girar...
quinta-feira, 11 de fevereiro de 2010
As pessoas mais bonitas?
Aquelas que tateiam o mundo como formigas, riscando a terra até que o mundo se remexa todo só pela presença delas.
Risc, risc, risc...
Risc, risc, risc...
domingo, 7 de fevereiro de 2010
seco.
Nossa condição de sair batida entre as pedras, com as rachaduras costuradas à dente. Não há sangue pra molhar as feridas hoje. Meu coração bate como um movimento contínuo do qual não consegue se desligar, não há sangue, não há água, não há o que circule no peito. Além de uma ferida que insiste em aumentar. E o corpo amortecido insiste em penar no vazio. Seria demais pedir pulsos rasgados pra alimentar essa alma calada. Eu já quero me alimentar de mim só pra não te deixar com os olhos secos de tão profundo que eles sempre alcançam. Teus olhos que avançam sobre o infinito e não quero tirá-los dessa imensidão azul que brilha em ti tão fundo. Se me perguntassem a cor dos teus olhos eu diria azuis ou aquele preto infinito de girassóis. Te prometo um abraço fundo ao término do latejar, quando o sangue já circulará, ao impossível de se estancar.
quinta-feira, 4 de fevereiro de 2010
manhã azul-amarela.
No meio das lembranças que a mente insiste em trazer, vem aquelas que paralisam o tempo.
É como o tempo de manhã, como o pêlo do cachorro macio que acabou de acordar, pés descalços no piso gelado pra ver o rio caminhar, dia assim, nascendo, florescendo, mesmo que embaixo dos lençóis, feito minhoca que sai da terra pra encontrar o sol por talvez pouco tempo e se torna único. Tem gente que faz raiar tanto o sol que a gente sente ele pra sempre.
É como o tempo de manhã, como o pêlo do cachorro macio que acabou de acordar, pés descalços no piso gelado pra ver o rio caminhar, dia assim, nascendo, florescendo, mesmo que embaixo dos lençóis, feito minhoca que sai da terra pra encontrar o sol por talvez pouco tempo e se torna único. Tem gente que faz raiar tanto o sol que a gente sente ele pra sempre.
sábado, 30 de janeiro de 2010
Palimpsesto
Na boca um sabor de memória
como as paredes daquela casa fazem
quando fecho as portas e me vejo dentro
dentro de outro tempo,
dentro de outra casa,
dentro de mim.
Me desfaço em espaços de tempo...
e às vezes alimento até um certo receio de me perder.
Desnudo a minha pele
como um palimpsesto.
E de repente é tudo exposto...
Veias, artérias, cicatrizes
das mais fundas
das mais carregadas
cheiro
gosto
tato
Tato doce e lento
como eu sempre caminho pelas coisas
Um dia, um amor me disse que eu penetrava as coisas com a pele
mas lento, bem lento...
como se elas pudessem ficar guardadas no tempo.
Eu agarro as coisas no tempo das coisas
mas elas permanecem no infinito...
Os lugares vibram, mas alguns são tão secos...
E doem fundo em nós.
Parede cor de tomate maduro rasgando...
Vê, vê ali as cicatrizes da parede: palimpsesto.
Palha seca,
Porta rasgada da memória,
Que eu entro e me perco.
como as paredes daquela casa fazem
quando fecho as portas e me vejo dentro
dentro de outro tempo,
dentro de outra casa,
dentro de mim.
Me desfaço em espaços de tempo...
e às vezes alimento até um certo receio de me perder.
Desnudo a minha pele
como um palimpsesto.
E de repente é tudo exposto...
Veias, artérias, cicatrizes
das mais fundas
das mais carregadas
cheiro
gosto
tato
Tato doce e lento
como eu sempre caminho pelas coisas
Um dia, um amor me disse que eu penetrava as coisas com a pele
mas lento, bem lento...
como se elas pudessem ficar guardadas no tempo.
Eu agarro as coisas no tempo das coisas
mas elas permanecem no infinito...
Os lugares vibram, mas alguns são tão secos...
E doem fundo em nós.
Parede cor de tomate maduro rasgando...
Vê, vê ali as cicatrizes da parede: palimpsesto.
Palha seca,
Porta rasgada da memória,
Que eu entro e me perco.
sábado, 23 de janeiro de 2010
sábado, 16 de janeiro de 2010
sexta-feira, 15 de janeiro de 2010
é, pois é, é.
É a falta de entrega.
Não, não é a falta de entrega.
É a falta de rumo.
Não, não é a falta de rumo.
é a dúvida.
e só, a dúvida, entendeu?
A dúvida que bate na mente, enquanto há paz, mas não há paz.
São os cacos batendo e batendo e tentando dizer o que fazer enquanto está tudo confuso ou claro demais.
Não, não é a falta de entrega.
É a falta de rumo.
Não, não é a falta de rumo.
é a dúvida.
e só, a dúvida, entendeu?
A dúvida que bate na mente, enquanto há paz, mas não há paz.
São os cacos batendo e batendo e tentando dizer o que fazer enquanto está tudo confuso ou claro demais.
segunda-feira, 11 de janeiro de 2010
Eu me seguro nas pontas dos dedos, mas continuo de pé.
Eu sei que o mar não vai curar. Eu sei que as noites agitadas, iluminadas e cheias de riso não vão curar. Eu sei que as ruas, as praças e vários outros lugares vão ser sempre cheios de marcas. Que alguns lugares podem carregar espinhos que ferem exatamente as cicatrizes mais profundas. Que os sonhos vão carregar as coisas pra perto de mim denovo, tudo que eu afasto da minha mente para não pensar, porque dói e faz um corte tão profundo, que nessas horas meu respiro é fraco e a minha garganta seca. Eu fico pensando naquela frase "não vai passar, mas vai melhorar" e eu sei que é sempre assim. A dor às vezes não precisa de chuva pra latejar tanto, ela só vem e dorme agarrada na gente e nem água pode fazer ela sumir. Mas eu sei que logo venta e ela poderá adormecer longe de mim.
segunda-feira, 4 de janeiro de 2010
Peito de ferro.
As dezenas de pessoas ao redor, a música pulsando tão forte no corpo, envolvido em suor, no meio da fumaça e da luz que gira e ilumina as dezenas de rosto no mesmo movimento, no mesmo espaço, respirando o mesmo ar. O ar que me falta e que não é lá que eu vou conseguir encontrar.
Segurou a minha mão e me disse que não é lugar para sentir o aperto no peito. É o último lugar para se sentir aperto no mundo inteiro. Aperto a gente sente quando o peito dói uma dor seca e intensa depois de tanto que a vida escorreu pelo corpo, depois de ter vibrado tanto e ter girado tanto, aperto é dor de perda. É sentir diferente desse meio que só é meio porque está todo mundo no meio da roda e ninguém consegue ver o que acontece por fora. Ninguém enxerga as dores que escorrem pelo chão enquanto todos dançam.
"Na vocação para a vida, está incluído o amor, inútil tentar disfarçar, amamos a vida. Lutamos por ela dentro e fora de nós mesmos. Principalmente fora, que é preciso um peito de ferro para enfrentar essa luta na qual entra não só o furor mas uma certa dose de cólera, furor e coléra. Não cortaremos os pulsos, ao contrário, costuraremos com linha dupla todas as feridas abertas. E tem muita ferida."
(Lygia Fagundes Telles)
(Lygia Fagundes Telles)
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