sábado, 30 de janeiro de 2010

Palimpsesto

Na boca um sabor de memória
como as paredes daquela casa fazem
quando fecho as portas e me vejo dentro
dentro de outro tempo,
dentro de outra casa,
dentro de mim.

Me desfaço em espaços de tempo...
e às vezes alimento até um certo receio de me perder.

Desnudo a minha pele
como um palimpsesto.
E de repente é tudo exposto...

Veias, artérias, cicatrizes
das mais fundas
das mais carregadas
cheiro
gosto
tato

Tato doce e lento
como eu sempre caminho pelas coisas
Um dia, um amor me disse que eu penetrava as coisas com a pele
mas lento, bem lento...
como se elas pudessem ficar guardadas no tempo.
Eu agarro as coisas no tempo das coisas
mas elas permanecem no infinito...

Os lugares vibram, mas alguns são tão secos...
E doem fundo em nós.

Parede cor de tomate maduro rasgando...
Vê, vê ali as cicatrizes da parede: palimpsesto.

Palha seca,
Porta rasgada da memória,
Que eu entro e me perco.

3 comentários:

cadeira vazia disse...

olhos não sabem quantificar.
mas eles gostam de ver, pra poder sentir.

Anônimo disse...

E quando penso em esquecer o vento que me toca faz sentir o que um dia foi tudo e hoje não sobrou nada, apenas lembranças, apenas sentimento sem lugar para se colocar...

Daniel Moreira Miranda disse...

παλίμψηστος : Riscar de novo!