São tantas explosões e flashes por segundo no céu
de passagem de ano que se tornou impossível vislumbrar a
Madrugada de Ano-Novo chegando, mansinho,
e aninhando-se no leito ainda quente do velho céu
embriagado.
Os estouros assustam os animais e as crianças pequenas,
que nunca viram guerra, senão de chocolate, nos sonhos.
E o mundo, que já viu tantas, acostumou-se com esse barulho tão semelhante ao das guerras?
Eu também me assusto: quero antes barulho de chuva
caindo sobre o telhado.
As estrelas cadentes estão indignadas
com suas concorrentes artificiais e negam-se
a cair sobre esse mundo decadente.
E talvez, quem sabe, a Madrugada de Ano-Novo, assustada,
criança, fuja para as fazendas etéreas
para se esconder debaixo dos braços de Deus.
E talvez os anos passados estejam reciclando-se,
já há muito, para substituí-la e estejamos
arrastando nossas vidas ao redor de um círculo vicioso
que avança e recua, progride e regride,
como sobre uma esteira que ao chegar ao término
volta ao ponto inicial de um mesmo ano,
cada vez mais velho e ultrapassado.
Mas o que aqui proponho são apenas mitos.
O que aí está são ritos, vícios, artíficios!
Já que não podemos ver o espetáculo natural no céu,
por favor, não passemos a virada do ano olhando artíficios.
Olhemo-nos nos olhos,
pois que ela, a Madrugada de Ano-Novo,
neles sim, aninha-se e bota um ovo.
de Ricardo G. Dias.
Retirado de "Caminhos da Fortuna", livro infantil escrito por Ivan Fortunato e ilustrado por Ricardo Gracindo Dias.
quinta-feira, 26 de agosto de 2010
terça-feira, 24 de agosto de 2010
eu queria dizer...
Eu agarraria cada segundo de tempo que me parece mínimo, e que ao mesmo tempo eu carrego com as mãos fechadas e fortes, e são tão raros, que quando acabam, parece que mesmo com tanta força, eles escorrem pela minha mão... E só fica eu ali, estática, no meio daquelas luzes amarelas que vibram ainda reproduzindo a minha pulsação...
e eu só queria dizer...
e eu só queria dizer...
quinta-feira, 19 de agosto de 2010
terça-feira, 17 de agosto de 2010
quinta-feira, 12 de agosto de 2010
domingo, 1 de agosto de 2010
últimos dias.
Tateou com os pés descalços o chão da cidade mineira, descascou laranjas sentada no chão e comeu cada uma sentido aquele gosto único, pintou as unhas com as cores do café, furou as orelhas virgens de sessenta anos e as enfeitou com brincos. Partiu bonita e livre, como uma criança (re)descobrindo as suas origens.
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