domingo, 17 de maio de 2009

meu amor de porta.

Abracei a porta com gosto, afinal era ali que o segredo ficaria bem guardado. Fechei cuidadosamente, testando o cadeado mais de três vezes para me certificar que ninguém encontraria o que afinal, era tão meu que ficava naquele cômodo escuro, sem janelas, porque se por alguma sorte alguém conseguisse arrombá-la, faltaria-lhe luz. Tentei ficar longe, mas não consegui. Me arrastei porta abaixo, até chegar ao chão, sentei exausta. Do que eu poderia chamar aquela coisa que nem eu mesma consegui dar nome? Tinha um certo ódio por guardá-la tão bem e sempre, por ser tão minha, por de certa forma não conseguir compartilhá-la com ninguém. Pensei em esquecer as chaves sobre a mesa ou inventar histórias mirabolantes para despertar a curiosidade de alguém e fazê-lo querer abri-la, pensei até em implantar alguma lanterna no caminho como um falso descuido. Pensei tanto que cansei. A raiva e a angústia pareciam só crescer e eu arranhava a pele, minhas unhas percorriam lentamente todo o meu braço com força para sufocar essa culpa. Eu comecei a odiar aquela imagem sem graça no espelho, sem graça e sem voz. Esse corpo de sussuro que eu pensava, meu deus, porque estar. Eu poderia achar graça do que ficava atrás da porta e nem me importar. Mas parecia que isso me consumia cada vez mais. Passava horas distante, com outros afazeres, pensando que talvez pudesse esquecer o fato de que havia algo. Eu odiava com um certo amor, amava com um certo ódio e comecei a ficar enjoada daquele pedaço de alguma coisa. Pensei em largar tudo e guardar a porta, me deu um certo alívio pensar que assim finalmente tudo ficaria seguro e protegido. Os olhos arregalaram e de repente percebi... a porra do mistério era eu.

4 comentários:

Daniel Moreira Miranda disse...

bem legal o texto... não resolve nada, mas resolve tudo :-D

Deise Furtado disse...

Saudade da menina de olhar doce e alma leve que soube andar pelo caminho até o meu coração.

menian disse...

amém!
da próxima vez, usso esse aqui como exemplo...

Marcelo Labes disse...

clap clap clap clap!

(e uma ausência de palavras pra dizer o que se passou por aqui)